Dança na escola: uma educação pra lá de física
Movimentos
ritmados, acompanhando uma música, ajudam a despertar a consciência corporal da
garotada
Primeiros
passos: com as típicas sombrinhas, turma de Educação Infantil aprende
frevo na escola Espaço Brincar, em São Paulo. Foto: Karine
Basilio
Dançar é uma das maneiras mais divertidas e adequadas para
ensinar, na prática, todo o potencial de expressão do corpo humano. Enquanto
mexem o tronco, as pernas e os braços, os alunos aprendem sobre o
desenvolvimento físico. Introduzir a dança na escola equivale a um tipo de
alfabetização. "É um ótimo recurso para desenvolver uma linguagem
diferente da fala e da escrita, aumentar a sociabilidade do grupo e quebrar a
timidez", afirma Atte Mabel Bottelli, professora da Faculdade Angel Viana
e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E o melhor: o trabalho pode ser
feito com turmas de todas as idades e de forma interdisciplinar, envolvendo as
aulas de Artes e de Educação Física. O mais importante, no entanto, não é
convencer a turma a ensaiar para se apresentar no final do ano. "A
prioridade é levar a criança a ter consciência corporal e entender como o corpo
dela se relaciona com o espaço", ensina Ivaldo Bertazzo, coreógrafo e
professor de reeducação do movimento, de São Paulo. Por volta dos 10 anos, a
criança sedentária pode apresentar encurtamento de alguns músculos, o que
provoca tensão. Esse estado tira o corpo da postura vertical, fundamental para
que os sentidos (visão, audição etc.) funcionem bem e para manter a
concentração inclusive nas aulas. Fique atento: nos garotos, as evidências mais
comuns do encurtamento dos músculos são o corpo jogado para trás, a coluna
curvada ao sentar e as pernas abertas quando estão parados em pé. Já nas
meninas, um corpo mal-educado se revela pelo abdome saliente, o bumbum empinado
para trás e os ombros contraídos. Em ambos, pescoço tenso, coluna pouco ereta e
desinteresse por esportes são motivos para deixar pais e educadores alertas.
Passos de dança e o alongamento contribuem para evitar a tensão. "A dança
é a única manifestação artística que realmente integra o corpo e a mente",
afirma Marília de Andrade, professora da Universidade Estadual de Campinas.
Brincadeiras servem para aquecer
As crianças ajudam a criar a coreografia: inspiração na cultura
popular. Foto: Karine Basilio
No Espaço Brincar, em São Paulo, os professores de Educação
Infantil Sílvia Lopes, Bruno Quintas e Yvan Dourado desenvolvem estratégias
lúdicas para fazer as crianças se mexerem. Pesquisadora da cultura popular,
Sílvia resolveu ensinar alguns passos de frevo à turminha. Antes, recorreu às
brincadeiras infantis e à cotação de histórias. "Não adianta trazer a
coreografia pronta", alerta a professora. "Os alunos querem
participar da criação e precisam descobrir, primeiro, que movimentos já sabem
fazer."
Para esquentar e levar cada um a conhecer melhor o corpo, a professora chamou a garotada para participar de um bolo humano. A atividade tem início com todos sentados em um grande círculo. Aos poucos, eles vão se arrastando para o centro da roda, orientados por Sílvia, que indica como vão se movimentar. Quando todos estão juntos, simulam com braços e pernas adicionar os ingredientes à massa do bolo. Em seguida, eles se chacoalham, imitando uma batedeira, e voltam para o lugar de origem, também movendo-se pelo chão.
Para esquentar e levar cada um a conhecer melhor o corpo, a professora chamou a garotada para participar de um bolo humano. A atividade tem início com todos sentados em um grande círculo. Aos poucos, eles vão se arrastando para o centro da roda, orientados por Sílvia, que indica como vão se movimentar. Quando todos estão juntos, simulam com braços e pernas adicionar os ingredientes à massa do bolo. Em seguida, eles se chacoalham, imitando uma batedeira, e voltam para o lugar de origem, também movendo-se pelo chão.
Em outro momento, a professora conta a história do saci-pererê.
"Escolhi o personagem porque ele se apóia numa perna só e a garotada adora
ficar assim, se equilibrando", observa Sílvia. A idéia é que, com
sombrinhas de frevo, os alunos interpretem como o saci faria para atravessar
uma floresta, cruzar um rio, desviar de cobras e onças com pulos e rolar pelo
chão. Pronto! Assim, as crianças aprendem os passos básicos do frevo. A aula de
50 minutos acaba com um relaxamento coletivo.
A professora de Educação Física Luciana Burgos, de Porto Alegre, também uniu a cultura popular à consciência corporal em suas aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nações Unidas. Há dez anos, ela percebeu que podia associar alguns exercícios a passos do vanerão, dança típica gaúcha. Nesse caso, o ideal é começar o trabalho pela teoria, explicando a origem da dança. Depois, entram em cena elementos como música e figurino. "Em pouco tempo, conseguimos formar várias duplas", conta a professora. "Deixei as aulas de ginástica a cargo de um colega e me dediquei só ao grupo de dança."
O popular deixa a dança mais atraente
A professora de Educação Física Luciana Burgos, de Porto Alegre, também uniu a cultura popular à consciência corporal em suas aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nações Unidas. Há dez anos, ela percebeu que podia associar alguns exercícios a passos do vanerão, dança típica gaúcha. Nesse caso, o ideal é começar o trabalho pela teoria, explicando a origem da dança. Depois, entram em cena elementos como música e figurino. "Em pouco tempo, conseguimos formar várias duplas", conta a professora. "Deixei as aulas de ginástica a cargo de um colega e me dediquei só ao grupo de dança."
O popular deixa a dança mais atraente
Para despertar nos alunos o interesse pela dança, é preciso
levar em consideração o repertório artístico que eles têm, deixar bem claro que
homem também dança e, claro, convidar a turma toda para participar. Há 15 anos,
a professora de Artes Marly Vendramini Cairoli, da Escola Municipal de Ensino
Fudamental Dona Angelita Maffei Vita, em São Paulo, propõe atividades variadas
para atrair alunos de 5ª a 8ª série para suas aulas.
Diversas turmas já contaram em forma de coreografia a história do cientista Albert Sabin (1906-1993) e do pintor Salvador Dalí (1904-1989) e reproduziram com o corpo a famosa tela Guernica, de Pablo Picasso (1881-1973). A última inspiração de Marly veio de uma visita que suas turmas de 7ª e 8ª séries fizeram à exposição A Herança dos Czares, uma reunião de 200 obras do Museu do Kremlin, de Moscou, que ficou em cartaz entre abril e junho no Museu de Arte Brasileira, em São Paulo. "Como já tínhamos estudado a arte bizantina, não tive dúvida: desafiei os adolescentes a montar um pagode", conta Marly. Apesar de no Brasil a palavra designar um tipo de samba, ela também denomina uma dança russa.
Diversas turmas já contaram em forma de coreografia a história do cientista Albert Sabin (1906-1993) e do pintor Salvador Dalí (1904-1989) e reproduziram com o corpo a famosa tela Guernica, de Pablo Picasso (1881-1973). A última inspiração de Marly veio de uma visita que suas turmas de 7ª e 8ª séries fizeram à exposição A Herança dos Czares, uma reunião de 200 obras do Museu do Kremlin, de Moscou, que ficou em cartaz entre abril e junho no Museu de Arte Brasileira, em São Paulo. "Como já tínhamos estudado a arte bizantina, não tive dúvida: desafiei os adolescentes a montar um pagode", conta Marly. Apesar de no Brasil a palavra designar um tipo de samba, ela também denomina uma dança russa.
Passos do pagode russo na escola Angelita Maffei Vita: a idéia
da atividade surgiu após visita a uma mostra sobre arte na terra dos czares.
Foto: Karine Basilio.
Durante um mês, os alunos desenharam com o corpo figuras
geométricas no espaço, somente para esquentar: em pé, um ao lado do outro, eles
faziam retas com os braços ou, individualmente, formaram triângulos com as
pernas, entre outros movimentos. Em seguida, a turma escolheu as músicas e
montou uma coreografia de quatro minutos. "Quando a professora me
convidou, achei que seria uma chatice, porque todo mundo só gostava de black
music e axé. Me enganei", confessa Suelen Fabiano da Silva, da 8ª série.
"Descobrimos que alguns passos de black e axé podem ser adaptados para o
pagode. Ficou ótimo", diz Mauro Rogério, também da 8ª série.
Marly se livrou de uma armadilha em que muitos professores acabam caindo: tentar ensinar balé clássico na escola. "Esse estilo vai contra a espontaneidade da atividade. Trabalhar com as danças populares sempre dá mais certo", alerta Hulda Bittencourt, diretora artística da Cisne Negro Cia. de Dança. Há cinco anos, o Cisne Negro oferece o curso Vem Dançar, dirigido a professores da rede pública paulistana, que mostra como o repertório popular pode deixar a dança mais atraente e de que modo ela evoluiu ao longo do tempo.
Muitas vezes vista como elitista, a dança é uma atividade de integração que se adapta muito bem a qualquer currículo. As fontes de inspiração para as aulas podem variar, de acordo com o projeto da escola e os interesses da turma o comportamento dos animais e os fenômenos da natureza, por exemplo, rendem boas atividades. A sala não precisa nem ter espelhos, como as dos grandes centros de dança: basta ser limpa, bem iluminada e ventilada. Para a aula ser produtiva e agradável, diga à garotada para usar roupas leves e confortáveis e tomar muita água, como em qualquer esporte, para não desidratar.
Marly se livrou de uma armadilha em que muitos professores acabam caindo: tentar ensinar balé clássico na escola. "Esse estilo vai contra a espontaneidade da atividade. Trabalhar com as danças populares sempre dá mais certo", alerta Hulda Bittencourt, diretora artística da Cisne Negro Cia. de Dança. Há cinco anos, o Cisne Negro oferece o curso Vem Dançar, dirigido a professores da rede pública paulistana, que mostra como o repertório popular pode deixar a dança mais atraente e de que modo ela evoluiu ao longo do tempo.
Muitas vezes vista como elitista, a dança é uma atividade de integração que se adapta muito bem a qualquer currículo. As fontes de inspiração para as aulas podem variar, de acordo com o projeto da escola e os interesses da turma o comportamento dos animais e os fenômenos da natureza, por exemplo, rendem boas atividades. A sala não precisa nem ter espelhos, como as dos grandes centros de dança: basta ser limpa, bem iluminada e ventilada. Para a aula ser produtiva e agradável, diga à garotada para usar roupas leves e confortáveis e tomar muita água, como em qualquer esporte, para não desidratar.
COMENTÁRIO – Seria muito bom se todas as
escolas tivesse aulas de dança. Eu faço jazz no clube e acho muito bom para
mim. É uma atividade física, me ajuda no equilíbrio, é divertido e melhorar na
minha concentração, pois preciso decorar todos os passos. Também para fazer dança precisa de dedicação e paciência pois, se deseja ser um(a) dançarina(o) muito bom (a), precisa disso ;)