Matemática é ensinada a crianças do Brasil com metodologia de Harvard
O Círculo da Matemática chegou a 66 escolas
públicas de 10 cidades. Objetivo é inovar no ensino, desenvolver o raciocínio e
criatividade.
Vanessa FajardoDo G1, em São Paulo
Pela metodologia de
Harvard, a base das aulas é a reta numérica (Foto: Caio Kenji/G1)
Uma nova proposta do ensino da matemática chegou a
7 mil alunos dos primeiros anos do ensino fundamental de 66 escolas públicas em
10 cidades brasileiras. É o Círculo da Matemática, uma pedagogia desenvolvida
pelos professores Bob e Ellen Kaplan, da Universidade Harvard, nos Estados
Unidos, e trazida para o Brasil pelo Instituto Tim.
Pelo círculo, as aulas de matemática são oferecidas
a turmas de no máximo 10 alunos. Não há carteiras, lição de casa ou provas.
Somente cadeiras, em que os alunos, propositalmente, não param sentados. A
fórmula é simples: as crianças são instigadas a responder as questões da
professora na lousa com giz, sem qualquer tecnologia. Nenhum erro é reprimido,
mas nenhuma resposta é oferecida sem ser debatida.
A base das aulas é uma reta numérica onde são
ensinadas as operações e conceitos matemáticos. "Quais são números pares,
e os ímpares, e os primos?", questiona a professora, enquanto os alunos disputam
para respondê-la.
As aulas do círculo não substituem as da grade
curricular de matemática das escolas, ou seja, são aulas extras e ocorrem uma
vez por semana para cada turma. O objetivo é desenvolver o raciocínio das
crianças, fazer com que elas pensem, esqueçam as fórmulas e a decoreba e acima
de tudo aprendam a gostar de matemática. Tem funcionado. “Gosto de matemática
porque é divertido, as pessoas que acham chato é porque não conhecem os
números”, diz Maria Clara Barbosa Rodrigues, de 7 anos, aluna do 2º ano.
O principal lema que define a metodologia dos
professores Kaplan de Harvard é “diga-me e esquecerei, pergunte-me e
descobrirei.” Nas aulas, faz parte da metodologia chamar as crianças sempre
pelos nomes e incentivá-las a entrar nas discussões.
Ajuda no raciocínio
Estudantes da rede
pública participam da prática em matemática com a professora Janaina de Almeida
(Foto: Caio Kenji/G1)
Parte do fracasso do ensino da matemática é o
excesso de mecanização. Fazer matemática é fazer continha e muitas vezes é um
negócio chato para as crianças".
Flavio Comim, coordenador do
Círculo da Matemática no Brasil
Em São Paulo, uma das unidades contempladas é a da
escola estadual Clorinda Danti, na Zona Oeste de São Paulo, que atende 480
alunos do 1º ao 5º do ensino fundamental. Uma das educadoras é Janaina
Rodrigues de Almeida, de 29 anos, aluna de licenciatura de matemática pela
Universidade de São Paulo (USP). “Nunca tinha dado aulas e ver a carinha das
crianças quando elas descobrem algo é impagável. Nessa idade você as ajuda a
contribuir com algo para o futuro. O círculo ajuda a pensar, a raciocinar”,
afirma Janaína.
A diretora da escola Rosana Osso de Miranda diz que
o trabalho do círculo acabou influenciando o desempenho dos alunos nas demais
disciplinas e até os professores da unidade. “Os alunos estão mais
participativos e gerou uma reflexão nos professores de que eles podem fazer
diferente.”
Harvard na periferia
O projeto chegou ao Brasil há um ano. A
expectativa, de acordo com o coordenador do Círculo da Matemática no Brasil,
Flavio Comim, é incorporar os alunos do 5º ano e formar educadores que já atuam
como professores na rede pública para expandir o número de crianças atendidas.
As escolas que recebem o círculo são escolhidas a partir de parcerias com as
secretarias da educação e a preferência é optar por aquelas que possuem os
piores desempenho no Índice de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Assim como a música é feita para tocar junto,
matemática (que é a mais bela das músicas) é feita por seres humanos para seres
humanos, e feita para ser praticada coletivamente"
Bob Kaplan, professor de
Harvard
“Parte do fracasso do ensino da matemática é o
excesso de mecanização. Fazer matemática é fazer continha e muitas vezes é um
negócio chato para as crianças. Seguimos uma abordagem que os professores
Kaplan desenvolveram durante 20 anos, é um tipo de ensino muito exclusivo. É a
pedagogia de Harvard para crianças da periferia do Brasil”, diz Comim.
Bob e Ellen Kaplan vêm ao Brasil frequentemente
para formar professores. Eles dizem que se o professor explicar uma ideia para
uma criança em matemática ou qualquer outra disciplina, ela não é estimulada a
pensar. “Mas se o professor der uma problema atraente que precisa dessa ideia
para a solução, ela vai descobrir isso para si mesma e sua autoconfiança irá
aumentar”, diz Bob Kaplan, em entrevista por e-mail ao G1.
Para os estudiosos da matemática, a classe deve ser
como uma conversa de animada entre amigos em uma mesa de jantar. “É claro que
esses tipos de conversas só acontecem em pequenos grupos. Muitos, muitos mais
professores devem ser treinados para fazer essas perguntas principais e moldar
as conversas, e isso é o que fazemos em nossa formação de professores de
matemática do círculo”, afirma Ellen.
Bob diz que o círculo não possui um método rígido,
mas uma abordagem flexível, e foi adaptado por pessoas nas quais eles se
incluem. “Assim como a música é feita para tocar junto, matemática (que é a
mais bela das músicas) é feita por seres humanos para seres humanos, e feita
para ser praticada coletivamente”, diz Bob.
FONTE http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/09/matematica-e-ensinada-criancas-do-brasil-com-metodologia-de-harvard.html
Comentário: É muito
interessante esse modo de estimular as crianças, fazer que elas entrem em
debate para uma resposta, em vez de fazer dever de casa ou prova. Como se estivesse
fazendo um trabalho em grupo e cada um dá sua opinião. Com todas as opiniões,
chegam a uma resposta do problema que foi passado pelo professor.
Gostaria de conhecer
esse método de ensino. Poderia ser meio confuso no início, mas o resultado
acredito que seria muito bom.